Jornada de Noir

Amanhecer

O início de uma longa jornada

Um novo dia começava na pequena cidade de Twinleaf. O sol se levantava lentamente, colorindo o céu escuro com um belo azul e alguns tons de amarelo e laranja, prometendo um clima ensolarado e agradável para este dia. E nesta bela manhã eu me perguntava, o que exatamente eu estou fazendo acordada tão cedo e ainda por cima já discutindo com o meu melhor amigo?

- Noir! Você não disse que este ano você iria participar dos contests e se tornar uma Top Coordenadora?

- Eu nunca disse que seria uma Top Coordenadora, para isso eu precisaria vencer o Grande Festival.

Ao contrário de Leon que já parecia pronto para sair em uma jornada e falava em um tom indignado comigo, eu o respondia calmamente, ainda de pijama na minha cama e meio adormecida. Um grande bocejo escapava de minha boca enquanto Leon respondia falando um pouco alto.

- Mas eu não disse que eu iria com você e te ajudaria a treinar? Tendo a minha ajuda você com certeza vai vencer esse tal festival! E além do mais é a nossa chance de conhecer outros lugares!

Leon falava animado, provavelmente já imaginando vários lugares fantásticos que ele esperava encontrar caso saíssemos em uma jornada e provavelmente também exagerando em suas expectativas. Eu por outro lado não me importava com isso. Claro, se possível eu adoraria viajar e conhecer outros lugares, mas também não me importava de ficar em Twinleaf. Sempre gostei daqui, um clima agradável, uma cidade tranquila e pessoas gentis. Mas eu sabia bem que Leon gostaria de sair da cidade e experimentar coisas novas.

- E eu já disse que você não precisa ficar aqui comigo. Eu vou ficar bem mesmo que você saia em uma jornada para conhecer o mundo.

Era mentira. Caso meu amigo de infância que sempre esteve ao meu lado um dia não estivesse mais eu certamente me sentiria solitária, mas eu também odiava estar prendendo Leon a esta cidade. Ele com certeza pensava que não poderia me deixar sozinha aqui e por isso também ficou nesta pequena cidade comigo por estes 16 anos. Bocejei mais uma vez, mas sabia que já não conseguiria voltar a dormir.

- É claro que eu não poderia ir e te deixar aqui sozinha! Eu não posso deixar minha melhor amiga pra trás e ir viajar sozinho, não é?

Eu soltei um pequeno suspiro. Era exatamente como eu pensava. Quantas vezes nós já não havíamos discutido sobre isso?

- Eu já disse que pode. Agora será que você poderia sair do meu quarto um minuto? – respondi em um tom indiferente e ao ver a confusão em seu rosto completei – Indo ou não em uma jornada preciso trocar de roupa.

- E qual o problema? – Leon perguntou ainda confuso.

- Nós já não somos mais crianças e mesmo que você não ligue para isso eu ainda sou uma garota. – respondi já um pouco irritada e praticamente o empurrando para fora do quarto.

Sério, quão sem noção ele poderia ser? Tranquei a porta e voltei ao meu armário, decidi por bata branca e um shorts azul escuro. Como esta manhã ainda estava um pouco fria peguei também um casaco bege e saí do meu quarto para encontrar Leon no corredor.

- E os pokémon que pegamos com o professor Rowan ontem? O piplup pareceu se apegar bastante a você. Você não até disse que ia dar o nome de Ace pra ele?

Ele ainda continuava com isso? Aparentemente esta discussão não terminaria tão cedo.

- Bem, é claro que eu me sinto mal por eles, mas ainda acho que isso será impossível. Você não entende? Me apresentar na frente de milhares de pessoas... Isso é impossível para mim!

É impossível, mas uma parte de mim ainda ansiava por isso. Eu estava consciente disso e foi isso que me fez ir pegar um pokémon inicial. Mas agora toda a determinação que eu tinha ontem se foi e eu tinha medo de continuar com essa ideia. Fechei os olhos conflita entre meu desejo e meu medo, mas a voz agora calma de Leon me tranquilizou um pouco.

- Não é impossível. O que você acha de fazermos assim então? Vamos decidir isso em uma batalha pokémon. Se você ganhar pode fazer o que quiser, mas se eu ganhar você vem comigo em uma jornada. Claro que eu não vou te forçar a participar de um contest se você não quiser, mas ainda quero que venha comigo conhecer outras cidades.

Abri os olhos e o encarei surpresa com a sugestão. Não parecia ser uma ideia tão má assim, pelo contrário, parecia uma ótima ideia para acabar de vez com esta discussão. O único problema era que eu nunca tinha feito uma batalha pokémon antes e as únicas que eu já tinha visto era as dos contests, mas o Leon não deve ter tanta experiência em batalhas também.

- Ok. Vamos fazer isso então.

Leon sorriu com minha resposta positiva e nós dois nos dirigimos ao jardim para fazer a batalha. Eu me lembrei do que o professor havia nos avisado, os dois pokémon ainda não eram muito fortes e não sabiam muitos ataques. Pensando bem, esta seria a primeira vez que eu iria tirar o Ace da pokéball desde que eu o peguei no laboratório. Eu teria que me desculpar com ele por tê-lo deixado tanto tempo naquela pequena esfera. Eu lancei a pokéball no ar liberando o pequeno pokémon pinguim da esfera. Me aproximei dele, me agachando para olhá-lo nos olhos.

- Olá, Ace... – comecei sem saber o que dizer – Eu sinto muito por ter te deixado dentro da pokéball este tempo todo...

O pokémon azulado me olhava fixamente, esperando o que eu iria falar, o que me deixava um pouco nervosa e fazia eu me perder em minhas palavras.

- Eu realmente sinto muito. Mas agora eu preciso de sua força. Você poderia me ajudar a vencer esta batalha?

Quando terminei de falar Ace sorriu para mim e batendo levemente uma de suas asas sobre o peito e piou como se dissesse “Pode deixar comigo”. Sorri aliviada com a aceitação do pokémon e me levantei, eu e Ace nos preparando para a batalha. Leon já parecia pronto, esperando com seu chimchar, ao qual ele deu o nome de Kaen.

- Prontos? – acenei positivamente com a cabeça em resposta – Então vamos começar!


- Vamos começar atacando. Kaen, scratch!

Ao ouvir o comando, o pokémon macaco começou a avançar rapidamente contra Ace, preparando suas afiadas garras para o ataque. Surpreendida pela velocidade do chimchar, rapidamente tentei dar um comando.

- Ace, desvie!

O pokémon aquático logo se moveu para evadir o ataque, porém Kaen era mais rápido e arranhou Ace em suas costas quando este tentou desviar.

- Ace! Não!

- Isso! Continue com uma sequência de scratch!

O pokémon de fogo rapidamente voltou a atacar, arranhando o Ace consecutivamente em vários lugares. O pequeno pinguim conseguia desviar de um ou outro ataque, mas não conseguia uma abertura pra contra-atacar.

“Não, não, não, não! Isso não é bom!” pensava à beira do desespero. Não podia continuar apenas assistindo isso, mas também não sabia o que fazer, tudo o que eu sabia de batalhas era sobre contests. Foi então que eu tive uma ideia, eu poderia tentar usar uma técnica como as que eu sempre assisti nessas belas batalhas. Ace já parecia bastante cansado e ferido e eu me apressei para lembrar de algo que pudesse usar nesta situação.

- Ace, quando ele for atacar novamente, gire para desviar, dando a volta para trás do Kaen e continue com um pound!

Rapidamente passei as instruções, mas sendo nossa primeira batalha não tinha certeza que Ace entenderia o que eu quis dizer. Quando o pokémon de fogo ia dar outro scratch com sua pata direita Ace conseguiu desviar girando para a esquerda do macaco. Ao terminar a volta, o pokémon aquático já estava praticamente atrás de Kaen e estendendo sua asa que começava a brilhar, Ace terminou o giro acertando o pokémon macaco nas costas e o derrubando.

- Nós conseguimos! – eu praticamente gritei de surpresa e felicidade.

Leon parecia tão surpreso quanto eu, mas não demorou a voltar a sorrir quando Kaen se levantou.

- Foi uma boa estratégia, mas ainda não acabamos.

Ele estava certo. E olhando para a situação não parecia nada bom para mim, mais alguns ataques e Ace provavelmente não conseguiria mais continuar. "Deve haver algo mais que eu possa fazer... Afinal, tenho até mesmo o Ace se esforçando tanto para vencer". Quando estávamos prestes a continuar a batalha ouvimos alguém falando conosco.

- Já chega!


Os dois humanos e os dois pokémon se viraram quase ao mesmo tempo para ver a quem pertencia a voz. Parada na porta da casa estava minha mãe nos encarando com um olhar sério, mas que logo se tornou um sorriso após um suspiro.

- Eu sei que vocês devem estar ansiosos para começar a jornada, mas podiam ir com um pouco mais de calma.

- Não é bem isso. Tenho que ganhar esta batalha pra Noir concordar em ir.

Minha mãe parecia um pouco confusa com o que Leon disse e olhou para mim preocupada. Ela provavelmente deve ter entendido que eu pateticamente estava desistindo novamente. No entanto, algo dentro de mim estava diferente depois desta batalha. Foi difícil no começo, mas quando Ace conseguiu revidar seguindo minhas instruções eu me senti tão feliz, provavelmente minha maior felicidade dos últimos anos. Eu estava novamente motivada a continuar com a ideia de participar dos contests.

- Tudo bem, Leon.

- O que? – ele me questionou confuso com o que eu acabara de falar.

- Estou dizendo que não precisamos terminar esta batalha. Eu... decidi ir com você. E também participar dos contests.

Provavelmente eu me arrependeria dessa decisão daqui a algumas horas ou dias, mas acredito que o meu maior arrependimento seria se eu passasse a vida toda sem nunca experimentar participar de um contest.

- Neste caso o que estamos esperando? Vamos começar essa jornada! – Leon disse com um grande sorriso no rosto.

Eu sorri de volta, mas o momento foi interrompido pela minha mãe pigarreando indicando que tinha algo a dizer.

- É muito bom que tudo tenha se resolvido, mas acho melhor tratar esses pequeninos antes. – ela disse indicando Ace e Kaen – E também seria bom vocês tomarem café da manhã antes de saírem.

Apenas quando minha mãe falou isso que eu notei que eu ainda nem tinha tomado o café da manhã ainda. E eu estava com muita fome. Dei uma olhada no Leon que estava com a mão sobre o estômago e aparentemente também tinha esquecido da primeira refeição do dia. Ele olhou rapidamente em minha direção e quando nossos olhares se cruzaram começamos a rir. Nossa jornada estava prestes a começar, depois, é claro, do esquecido café da manhã.

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